Quando um paciente de 53 anos apresentou quadro de recidiva de um rabdomiossarcoma, câncer no músculo, comum em jovens e crianças, seu médico decidiu enviar o caso para a investigação de um patologista. Era o primeiro passo para o estudo que descobriria um novo tipo de câncer: o Sarcoma de Trato Nasal.
Dr. Antônio Nascimento, patologista que trabalhou nessa pesquisa pela Mayo Clinic e hoje integra a equipe do Departamento de Anatomia Patológica do A.C.Camargo, explica o início dos estudos: "Quando o médico me informou, comparei com todos os outros pacientes diagnosticados com rabdomiossarcoma. Foi encontrada uma marcação imuno-histoquímica (identificação de moléculas das doenças) diferente da usual para esse tipo de câncer". Posteriormente, ao analisar o banco de dados da instituição, o patologista encontrou outros registros, desta vez, semelhantes ao desse então novo sarcoma.
As principais características
Foram avaliados 28 casos de Sarcoma de Trato Nasal – 21 mulheres e sete homens, com a média de idade de 52 anos. "Trata-se de um câncer com agressividade local e potencial para infiltrar estruturas vizinhas da cavidade nasal. Porém, raramente gera uma metástase", ressalta Dr. Antônio, que destaca sua principal característica: "Há grande potencial de recidiva, com riscos de o tumor retornar após retirada cirúrgica".
Como as pesquisas sobre o Sarcoma de Trato Nasal ainda estão em fase inicial, não há conhecimento sobre os fatores de risco específicos para essa doença. No entanto, descobriu-se a alteração genética causadora desses tumores: a proteína PAX3-MAML3. "Esses dois genes normalmente não atuam juntos. Em organismos comuns, o PAX3 posiciona-se com pequena distância do MAML3. Nos casos estudados, descobriu-se essa fusão, decorrente de uma translocação cromossômica anormal", afirma Nascimento.
A identificação dessa mutação pode colaborar não só para a descoberta de possíveis fatores de prevenção, mas principalmente para o desenvolvimento de tratamentos químio e radioterápicos. O olhar clínico do médico pode ser o primeiro passo para o diagnóstico. Exames de imagem poderão ser solicitados, mas não há um específico para essa situação. Entre os sintomas, corrimento nasal e rinorreia são os mais conhecidos. A cirurgia é, por enquanto, o único tratamento possível para a remoção do tumor.
Dr. Antônio Geraldo do Nascimento - CRM 146474
Médico Titular do Departamento de Anatomia Patológica
Fonte: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22301502>.