Trabalho apresentado por especialistas do A.C.Camargo na ASCO, em Chicago, é o maior já realizado no país sobre tumor fibroso solitário
Ampliação do entendimento sobre o tumor fibroso solitário na população brasileira, contribuindo assim para a observação das medidas terapêuticas que são adotadas para esse tipo raro de câncer. Essa é uma das premissas da pesquisa Solitary Fibrous Tumor: A Brazilian Cohort Analisys (Tumor Fibroso Solitário: uma Análise de Coorte Brasileira), apresentada em formato de pôster no congresso da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO, na sigla em inglês), o mais importante evento de Oncologia Clínica do mundo. A edição deste ano aconteceu de 31 de maio a 4 de junho, em Chicago.
Reunindo os casos de 82 pacientes com tumores fibrosos solitários tratados entre abril de 1971 e outubro de 2017, o estudo é o maior do Brasil e um das maiores do mundo sobre esta doença, que representa menos de 2% dos sarcomas – tumores nos tecidos conjuntivos que ficam entre a pele e os órgãos internos, como músculos, tendões e gordura. O trabalho foi realizado pela médica residente da Oncologia Clínica do A.C.Camargo Cancer Center, Marcelle Goldner Cesca, sob orientação da oncologista clínica titular da instituição, Joyce Lisboa e do Grupo de Sarcomas.
Foi feita uma análise retrospectiva do impacto do tratamento no tempo em que os pacientes ficam sem sinal de doença e no tempo médio em que estão vivos após a abordagem terapêutica. A média de progressão livre de doença foi de seis meses, ao passo que a média de sobrevida global foi de 27,3 meses.
“Talvez pela biologia mais favorável do tumor, os pacientes, mesmo quando apresentam recidiva em curto prazo após o tratamento sistêmico inicial com quimioterapia, conseguem ser elegíveis a tratamentos subsequentes e respondem bem”, explica Marcelle Goldner.
Ajustando a conduta
Os tumores fibrosos solitários podem ocorrer em qualquer órgão do corpo. Por ter baixa incidência em todo o mundo, não foi estabelecido um tratamento padrão quando os pacientes desenvolvem metástases ou doença localmente avançada não passível de tratamentos específicos, como cirurgia ou radioterapia. Para a decisão pela melhor conduta terapêutica diante dos pacientes tratados inicialmente com cirurgia que vieram a apresentar recidiva (volta da doença), leva-se em conta a existência ou não de fatores de risco.
Os pacientes com doença mais agressiva apresentavam ao menos um fator de risco de uma lista que inclui tumores maiores que 10 centímetros, doença mais extensa observada na cirurgia, presença de necrose e alto índice de mitoses. “A recorrência ocorre para cerca de 20% de todos os pacientes diagnosticados e tratados cirurgicamente. Falta estabelecer se é válido oferecer a eles um acompanhamento clínico mais frequente”, analisa Joyce Lisboa.
O estudo demonstrou também que o esquema de quimioterapia mais utilizado em pacientes com metástases foi a temozolomida associada ao bevacizumabe. Outras abordagens terapêuticas como quimioterapia padrão para sarcomas ou o uso de inibidores de tirosina quinase não tiveram respostas efetivas.